Estamos cercados por radiação eletromagnética — e não estamos falando apenas da energia emitida pelo Sol ou pelo espectro formado pela luz visível. Provavelmente algum aparelho emite ou recebe sinais de radiofrequência em seu bolso, na mochila ou ao seu lado. Isso inclui a telefonia celular, aparelhos de diagnóstico ou mesmo um forno microondas.
A relação entre estas ondas invisíveis de energia e seu impacto na saúde humana é um constante alvo de pesquisa. É um debate que ganha força a cada avanço nas tecnologias de comunicação sem fio. Não é diferente com a nova geração da telefonia móvel, o 5G.
A iniciativa mais contundente reúne cerca de 230 cientistas em uma petição, enviada para a União Europeia, alegando que a exposição às frequências reservadas para o 5G, entre 30 e 300GHZ, ainda não foram avaliadas no longo prazo. O documento questiona, ainda, os padrões definidos por entidades como a Federal Communications Commission (FCC), equivalente à Anatel nos Estados Unidos. Adotados nos anos 1990, estes valores estariam obsoletos.
Esta faixa de frequência destinada ao 5G é conhecida como ondas milimétricas (em inglês, mmWave, ou milimeter wave). Este comprimento de onda permite a transmissão de dados em velocidades mais rápidas, mas a uma distância menor do que as faixas mais convencionais. Basicamente, quanto maior a frequência, menor o alcance do sinal, incluindo obstáculos de recepção em lugares fechados.
Algumas soluções técnicas devem contornar este problema. Operadoras trabalham para viabilizar o padrão 5G em frequências próximas ao atual 4G. Ainda que a qualidade da conexão prometida não seja atingida, ao menos isso garante uma cobertura mais ampla. Ao mesmo tempo, um ecossistema funcional, com captadores de sinal e estações de rádio base menores, para retransmitir o sinal em áreas mais próximas dos usuários.
Em qualquer dessas aplicações, a expectativa é a de que o nível de energia seja tão baixo quanto o dos equipamentos que já existem atualmente. Ondas eletromagnéticas usadas por equipamentos de comunicação baseadas em radiofrequência consideradas não-ionizante são incapazes de quebrar moléculas do corpo e causar câncer, explicam especialistas ouvidos pela BBC.
Mesmo havendo consenso de que é preciso reduzir a exposição à radiação eletromagnética, não existem evidências ou indícios científicos consistentes que comprovem seus efeitos. Se não dá para afirmar que são inofensivas, também é imprudente espalhar informações sem fundamento.
Uma reportagem do The New York Times conta a história de um relatório elaborado pelo físico Bill Curry durante a implantação de redes sem fio em escolas públicas da Flórida, em 2000. O documento afirmava que a radiação em excesso representava um risco iminente à saúde dos alunos.
Tanto o artigo de Curry quanto seu gráfico, relacionando altas frequências a danos cerebrais, ainda é compartilhado em redes sociais e usado como justificativa para apontar os riscos da comunicação móvel. O problema é que o estudo era repleto de falhas. Christopher Collins, professor de radiologia ouvido pelo jornal norte-americano, observa que a pele humana impede a passagem de ondas eletromagnéticas pelo corpo, especialmente em frequências mais baixas.
“Além dos poucos estudos que são relevantes para a questão da segurança, a literatura contém muitos artigos procurando efeitos biológicos de ondas milimétricas. A maioria relatou algum tipo de efeito biológico da exposição. No entanto, eles variam amplamente em abordagem, características de exposição e qualidade. Muitos desses estudos são de natureza exploratória e carecem de precauções elementares para garantir resultados confiáveis”, complementa o professor de bioengenharia Kenneth R. Foster, em artigo no blog da Scientific American.
Em fase de testes e prevista inicialmente para 2020, a implantação do 5G no Brasil deve levar mais de dois anos. A definição dos modelos de licitação e leilões envolvendo a quinta geração da rede móvel sem fio, que aconteceriam no primeiro semestre, foram adiadas.
No discurso oficial, existem entraves técnicos, como a interferência em frequências usadas em transmissões de TV via satélite. Há, ainda, uma delicada relação comercial. A chinesa Huawei, uma das maiores interessadas nesse mercado, sofre com sanções norte-americanas mundo afora. Além dos EUA e da China, a “Era 5G” já começou em países como Coreia do Sul e também no Reino Unido.
Este é um resumo do cenário envolvendo a tecnologia no País. Enquanto o 4G entrega algo como 100 megabits por segundo (Mbps), a expectativa é de que ela ofereça velocidades ao menos 100 vezes superior, chegando a 10 gigabits por segundo (Gbps). Além da alta velocidade, espera-se ainda que, em uma mesma área, mais dispositivos fiquem conectados simultaneamente e de forma quase instantânea.
Isso deve potencializar a eficiência na troca de dados não apenas entre smartphones, mas também sensores, automóveis e outros dispositivos computacionais —- é a chamada Internet das Coisas. Sem falar em outras aplicações e serviços que, seguramente, nem todos conseguem prever quais serão.
É inegável a expectativa pela velocidade e conectividade da rede 5G, que irá transformar nossa relação com a informação móvel. Ao mesmo tempo, permanecerá a discussão sobre os efeitos da radiação eletromagnética gerada por estes e outros equipamentos de comunicação sem fio. Apesar do aumento significativo destes dispositivos nas últimas décadas, não há consenso em relação aos seus efeitos. O melhor a fazer é manter-se informado e atento às melhores fontes de informação na mesma medida em que aparelhos conectados tornam-se cada vez mais convenientes e úteis.