O advogado, o promotor e o juiz frequentaram todos a mesma faculdade. Mas você diria que eles exercem a mesma profissão? É evidente que não. Advogados, promotores e juízes podem coletivamente ser conhecidos como “operadores do Direito”, mas têm interesses e treinamentos diferentes. Advogados são inerentemente parciais: trabalham para seus clientes. Já promotores e juízes, ao menos em tese, agem em favor do interesse público. Esta longa introdução é para dizer o seguinte: assessores de imprensa são profissionais de relações públicas, não jornalistas. Mas não há nada de errado com jornalistas fazendo assessoria de imprensa.
No Brasil, assessores de imprensa participam dos mesmos sindicatos que os jornalistas. Como cerca de 40% dos profissionais formados em Jornalismo trabalham em assessorias de imprensa (fonte), eles também têm grande representação nessas associações. A força nos sindicatos é proporcionalmente ainda maior entre os professores de Jornalismo, quase todos concursados que lecionam em universidades públicas. Mais da metade dos jornalistas que atuam como professores são sindicalizados (51,4%), enquanto entre os que atuam na imprensa a taxa é de pouco mais de 20%.
Portanto, os sindicatos de jornalistas congregam realidades profissionais muito diferentes, mas sua composição é um pouco desequilibrada em relação ao mercado real. O fato de que assessores de imprensa e professores tenham grande peso nos sindicatos, porém, não quer dizer que eles exerçam a mesma profissão que os jornalistas. O professor da USP Eugênio Bucci afirma desconhecer “países de boa tradição democrática onde jornalistas se vejam como assessores de imprensa ou vice-versa”.
Diz o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros assinado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em seu artigo 12:
“[o] jornalista deve:
I – ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas”.
Aquele “ressalvadas” não está ali à toa. É uma forma de acomodar o assessor e o jornalista no mesmo código de ética, quando está claro que o comportamento deve ser diferente. O assessor de imprensa de um candidato não está obrigado a ouvir o rival ao veicular um vídeo com ataques à sua administração ou quando vai redigir um release enumerando as conquistas de seu cliente. Já o repórter sempre precisa ouvir o outro lado e checar números e dados com fontes independentes.
Assessores de imprensa podem se recusar a falar quando for o desejo do cliente. Jornalistas não podem omitir notícias de interesse público, sob o risco de perderem credibilidade. Assessores em geral trabalham para que outros veículos de comunicação publiquem notícias de seu interesse e omitam as que não interessam. Assessores trabalham para seus clientes; jornalistas, para seus leitores.
O fato de assessores de imprensa serem profissionais de relações públicas ou jornalistas, não torna a profissão menos digna ou menos merecedora de respeito. O que seria de um mundo apenas com promotores e juízes? É difícil de imaginar que seria democrático, afinal todos têm direito a um advogado. Assessores de imprensa também são profissionais da comunicação, e cada vez mais indispensáveis.
E você, o que acha desta discussão? Assessores devem ser advindos do curso de RP ou Jornalismo? Compartilhe sua opinião com a gente e vamos enriquecer este debate!