Reunimos sete boas práticas que caracterizam um texto bem escrito. De quem é a autoria destas recomendações? Bem, esta informação fica para o fim do texto. Vamos primeiro às sete dicas.
Cada parágrafo deve conter apenas uma ideia. Este deve ser o critério para você criar um novo parágrafo. É assim que trabalham as empresas de mídia tradicional, sempre atentas à objetividade. Veja, por exemplo, como o G1 noticiou um incidente com um avião no Rio Grande do Sul.
“Um avião da companhia aérea Azul atolou ao lado da pista do Aeroporto Regional Lauro Kortz em Passo Fundo, na Região Norte do Rio Grande do Sul, na manhã desta sexta-feira (16). O voo saiu de Campinas, no interior de São Paulo, com destino à cidade gaúcha. Ninguém ficou ferido.
A aeronave chegou ao aeroporto às 10h05. Durante a manobra de retorno, porém, o avião saiu da pista e ficou atolado no gramado lateral.
A Azul Linhas Aéreas informou que está prestando toda a assistência necessária aos passageiros e lamenta eventuais transtornos.”
No primeiro parágrafo, aparecem as informações principais, seguindo a técnica do 5W1H. O segundo parágrafo foca no histórico do acidente. O terceiro traz o posicionamento da empresa. E assim vai.
A organização de parágrafos permite ao leitor acompanhar o raciocínio desenvolvido em sua narrativa. Para potencializar esse efeito, lembre-se: um parágrafo, uma ideia.
Dizer que “a polícia prendeu o ladrão” é melhor do que dizer que “o ladrão foi preso pela polícia”. Transmite uma ideia de ação mais fácil de visualizar e acompanhar.
Usando exemplo real, você poderia dizer que uma determinada exportação de produtos da BRF foi interrompida pelo governo. A Exame preferiu a voz ativa:
“O Ministério da Agricultura decidiu interromper temporariamente a produção e certificação sanitária de produtos de aves da BRF exportados do Brasil para a União Europeia.”
Não se confunda: você pode usar a voz passiva quando julgar necessário. Foi o que fez o G1 ao noticiar um caso de violência no Rio de Janeiro.
A voz passiva, portanto, não é um erro. Apenas prefira a voz ativa.
Hoje escrevemos para dois públicos: o leitor, um ser humano de carne e osso, e o Google, cheio de algoritmos. Sim, é necessário redigir pensando em ranqueamento orgânico no Google.
Uma das crenças periclitantes dos profissionais de marketing é a de que textos grandes têm melhor desempenho em SEO. Não é bem assim. No livro Content Code, o autor, Mark Schaeffer, reforça que o Google aprimora constantemente seus algoritmos para que eles reproduzam o comportamento humano.
Na prática, o que acontece é que um dos critérios de ranqueamento do Google diz respeito ao tempo despendido pelo usuário na página. Daí a imaginar que textos maiores prendem mais a atenção é um erro. Textos bem escritos, com abordagens interessantes e úteis, e com boas imagens indexadas, é que retêm leitores. Já há estudos indicando que artigos com 600 a 800 palavras é que ranqueiam melhor no Google.
Por isso, escreva para o seu leitor, trazendo ideias bem encadeadas. Após escrever, revise o texto e torne-o mais enxuto para otimizar a leitura. O Google também vai premiar seu texto por isso.
A forma mais segura de escrever é usar frases curtas. Use mais pontos do que vírgulas. É uma maneira de organizar as informações. Foi um cuidado que tomou o El País ao noticiar a demissão da diretora de comunicação da Casa Branca.
“Hope Hicks, de 29 anos, anunciou na quarta-feira sua decisão de deixar a direção de comunicação da Casa Branca. Integrante do círculo íntimo presidencial, Hicks alegou que deixava o cargo porque “sentia que havia terminado seu ciclo” e que era um bom momento para fazê-lo. Um argumento que não convenceu muito no agitado cenário de Washington.”
Perceba que, além de manter frases curtas, o jornal teve o cuidado de não misturar tempos verbais. Os verbos estão todos no passado.
Não que você não possa misturar tempos verbais. Mas deve ter cuidado quando precisar fazê-lo, indicando de forma organizada o que é passado, presente ou futuro.
Adjetivos são uma forma de expressar emoção. Por isso, use com cuidado.
Quando o Brasil foi goleado pela Alemanha por 7 a 1 na Copa de 2014, a reação natural das pessoas nas redes sociais foi emotiva. Críticas, xingamentos, protestos e muitas outras manifestações estiveram repletas de adjetivos. O Jornal do Brasil, como empresa de mídia, precisou ser mais comedido.
Em relações interpessoais, não é diferente. Os adjetivos, por mais justos que possam parecer, comprometem a credibilidade de quem os usa.
Por exemplo, imagine que alguém diga que “fulano é um bandido, desgraçado, safado que mereceu ir para a prisão”. Agora imagine uma outra pessoa falando do mesmo fulano da seguinte forma: “ele foi preso por envolvimento em esquemas de corrupção”. O segundo tem muito mais chance de conquistar a confiança e ser ouvido.
Para informações positivas, é a mesma coisa. Você escrever que a sua empresa “presta excelentes serviços e tem clientes satisfeitos no mundo todo” não convence tanto quanto informar que “recebeu a certificação ISO-9002 e está presente em 18 países”. Percebe a diferença?
Portanto, verbos e substantivos devem ser a base de seus textos. Adjetivos precisam ser cuidadosamente validados.
Seja muito claro. Use uma linguagem simples. Evite expressões técnicas, a não ser que você esteja escrevendo um texto que vá ser lido especificamente por pessoas de seu mercado.
Não use gírias nem frases feitas — como ditados populares. Ainda que possam soar divertidos quando ditos em vídeo ou podcast, em texto é diferente. O texto não tem tom de voz. Há grande chance de uma gíria ou ditado ser interpretado como falta de criatividade ou de bom senso.
Tampouco se deixe levar pela informalidade das redes sociais. Primeiro porque as conversas no Facebook e afins são informais. Segundo porque elas revelam o despreparo das pessoas para escrever. Não nivele seu texto por baixo.
Ao ler uma coluna criativa e cheia de estilo, como a que foi publicada por Paulo Roberto Pires na Época, cuidado: você corre o risco de também querer criar um conteúdo com personalidade.
Textos autorais, como o do exemplo citado, contribuem muito para um site. Profissionais que têm a capacidade de produzir esse tipo de texto são valorizados porque trazem um algo a mais para o público. Mas lembre-se: eles são a exceção.
A regra é escrever textos objetivos, diretos ao ponto, claros e úteis. Os posts em seu blog e, principalmente, os que vão ser distribuídos por newswire ou assessoria de imprensa, devem obedecer à regra.
Estas sete técnicas de redação foram pinçadas do mais famoso livro sobre o assunto, que é referência mundial até hoje: The Elements of Style, escrito por William Strunk Jr e atualizado por E. B. White.
O mais curioso é que foi lançado pela primeira vez em 1918 e foi atualizado em 1935. São, portanto, cem anos. As técnicas de redação nunca envelhecem.
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