Não existe uma fórmula que permita a uma pessoa aprender a escrever bem sem bastante prática. Mas existem boas referências — e nos baseamos naquela que consideramos a clássica. Trata-se do livro The Elements of Style, escrito por William Strunk Jr. em 1918 e revisado em 1935.
Embora as regras tenham sido criadas há mais de cem anos, elas continuam válidas, como se tivessem sido pensadas para esta era digital. E isso tem uma explicação. A necessidade de comunicação clara e objetiva é inerente à natureza humana. Já existia cem anos atrás e certamente continuará existindo daqui a cem anos.
Pinçamos, então, dez regras do livro, que serve como ponto de partida para quem deseja aprender a escrever bem.
#1 Em cada parágrafo, concentre-se em apenas uma ideia. Este deve ser o seu critério para começar um novo parágrafo. Não se trata de deixar todos os parágrafos do mesmo tamanho, por uma questão estética, mas de indicar ao leitor que uma nova ideia se inicia cada vez que há troca de parágrafo. Esta é a função do parágrafo.
#2 Prefira a voz ativa à passiva. É mais fácil para o leitor compreender que “a polícia prendeu o ladrão” do que “o ladrão foi preso pela polícia”. Isto, porém, não significa que seja um erro usar a voz passiva. É apenas uma questão de priorizar a voz ativa.
#3 Escreva de forma afirmativa, evitando negações. Numa linha de raciocínio similar ao tópico anterior, é seu dever, ao redigir, buscar as palavras que ajudem seu leitor a compreender com mais facilidade do que se trata. Então, por exemplo, é preferível dizer que o “réu optou pelo silêncio” a dizer que “o réu decidiu não falar”. É um caminho mais curto para dizer a mesma coisa.
#4 Escolha as palavras certas e omita as desnecessárias. Quando você termina de redigir um texto, seu trabalho não acabou. Ele está só começando. Porque a edição consiste não apenas na revisão em busca de erros, mas no enxugamento do texto. Como dizia Carlos Drummond de Andrade, “escrever é a arte de cortar palavras”.
#5 Evite frases longas, uma vez que as curtas funcionam melhor tanto para quem escreve quanto para quem lê. Elas deixam o texto mais organizado. Se o seu texto tiver vírgulas e a repetição da palavra “que” em excesso, cuidado. Suas frases podem estar longas. Vale a pena revisá-las.
#6 Não misture tempos verbais. Por exemplo, se você escrever que a banda “se despede da turnê num show que promete ser o melhor da história”, evite em seguida completar com algo como “o vocalista fará uma performance”. Procure manter todos os verbos no mesmo tempo.
#7 Prefira verbos e substantivos a adjetivos porque adjetivos são carregados de emoção, julgamento e opinião. Por isso, muito cuidado ao adjetivar coisas, pessoas, fatos. Adjetivos podem empobrecer o texto, enfraquecer o argumento e até causar problemas para o redator.
#8 Evite expressões rebuscadas ou gírias. Elas são o lugar comum. O redator muitas vezes tem a ilusão de que uso da gíria lhe confere criatividade ou conexão com o público, mas há um enorme risco envolvido, que é o de ser percebido como vulgar.
#9 Cuidado com frases feitas e figuras de linguagem. Da mesma forma como as gírias, as frases feitas conferem criatividade somente a quem, um dia, criou a expressão — se é que é possível atribuir a autoria a alguém. Por isso, seu uso requer cuidado, com aplicação cuidadosa, quase que como pedindo licença ao leitor para usar.
#10 Prefira o padrão ao extravagante. Muitos redatores tentam fazer textos engraçadinhos, por vezes intimistas, e isso pode dar a sensação de esconder falta de repertório ou de pesquisa. Escreva com objetividade. Transmita seu recado de forma clara, apenas com a quantidade de palavras necessárias. Entre o bonitinho e o óbvio, prefira o óbvio, que é mais seguro.
Depois de absorver estas regras, vem a etapa mais trabalhosa: praticar muito. Em seu livro, Everybody Writes, a americana Ann Handley diz que “existem dois tipos de pessoas: as que acham que sabem escrever e as que acham que não sabem. Normalmente, ambas estão erradas. Porque escrever é um hábito, não é uma arte. Escrever, portanto, é uma habilidade que as pessoas podem aprender e aprimorar a partir da prática”.
Bons redatores buscam a simplicidade e a objetividade, transmitindo o recado de forma clara, sem gírias, enfeites nem adjetivos. O ideal é escrever de forma direta, afirmando em vez de negar, com mais voz ativa do que passiva. Estas são algumas regras de um livro escrito sobre redação há mais de cem anos, mas que continua bastante atual.