Fotojornalismo como ferramenta social

Por DINO 11 de agosto de 2015
Fotojornalismo como ferramenta social

A fotografia é desde sempre fruto dos anseios da sociedade. Nascida na esteira da Revolução Industrial (http://www.infoescola.com/historia/revolucao-industrial/), transferia para máquinas a tarefa de registrar a realidade, feita até então pela mão humana. Permitia ainda, em sua evolução, a reprodução sem limites de cópias a partir de um original, de maneira mecânica. Enquanto as artes-plásticas mantinham (e mantém) em boa parte sua aura com base na percepção de exclusividade e restrição de acesso, a fotografia se torna uma forma de expressão importante quanto mais é percebida e se aproxima do público em geral.

O fotojornalismo, entre todas as áreas da fotografia, talvez seja o mais atingido por essa necessidade de refletir os desejos da sociedade. Antes de mais nada, jornalismo é trazer uma realidade restrita, desconhecida ou de influência na vida de um determinado público. Contar uma história de maneira compreensível para quem lê (assiste, ouve). Mostrar lados novos, ângulos diversos e às vezes divergentes de uma mesma questão. Inclui-se ai tanto a mera curiosidade pela vida mundana dos ricos e famosos quanto a denúncia, a fofoca e a luta pela democracia. A respeito dos caminhos do jornalismo na atualidade, vale ler o bom texto de Leandro Beguoci (http://projetodraft.com/a-reinvencao-do-jornalismo-spoiler-e-hora-de-abaixar-o-topete-mas-de-levantar-a-cabeca/).

dino divulgador de notícias

Neste cenário, importa a percepção do público a respeito do que quer ver na primeira página do jornal durante seu café da manhã. E isso já gerou questões éticas importantes como no caso das imagens do atentado em Madri, em 2004 (http://imagesvisions.blogspot.com.br/2009/03/polemica-manipulacao-de-uma-fotografia.html). Para quem produz imagens, pensar na melhor fotografia vai além de questões técnicas e estéticas e passa pela necessidade de contar uma história, responder ao máximo às questões: o quê? quem? quando? como? onde? por quê? (o lide clássico http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_producao_l.htm). Também entram em jogo a disponibilidade para ir onde o consumidor da notícia não iria, mostrar a cena a qual o receptor da informação não teria acesso. Isso sem contar a percepção do valor histórico do que se fotografa.

Foi assim quando Robert Capa (http://www.magnumphotos.com/C.aspx?VP3=CMS3&VF=MAGO31_10_VForm&ERID=24KL535353), um dos fundadores da agência Magnum e referência até hoje em fotojornalismo de guerra, desembarcou com as Tropas Aliadas na França durante os momentos finais da Segunda Guerra Mundial (http://mundoestranho.abril.com.br/materia/por-que-a-normandia-foi-escolhida-para-o-desembarque-do-dia-d). A ousadia de Capa custou sua vida, durante a cobertura de conflitos na Indochina. Não foi o único. A lista de fotojornalistas mortos durante coberturas ganha novos nomes ano a ano, tendo por base essa necessidade de ir onde o consumidor de notícias não pode (ou quer), para trazer novas realidades, outros olhares.

Por outro lado, com a popularização da fotografia digital e o aumento de acesso a câmeras e meios de transmissão, cada vez mais o “cidadão comum”, o fotógrafo não-profissional, se torna participante da produção fotojornalística. Foi assim com Tami Silicio, funcionária de uma empresa contratada pelo Governo dos EUA e que distribuiu imagens de caixões com corpos de soldados sendo embarcados no Kuait. Ela perdeu o emprego, mas mudou normas em relação a esse tipo de imagem e, mais importante, revelou uma realidade a qual, dificilmente, um fotógrafo profissional teria acesso. A história em mais detalhes está aqui (http://observatoriodaimprensa.com.br/caderno-da-cidadania/a-polemica-das-imagens-de-caixoes/).

Com isso, alguns pregam a morte do fotojornalismo (ou ao menos da profissão de fotojornalista). Quem pagaria para ter material de um profissional se qualquer um pode realizar a mesma imagem com um celular, basta estar no local certo e na hora certa? Outras vozes se elevam para comemorar a democratização da imagem como informação. Mais do que nunca está nas mãos do público, e não de alguns eleitos (ou dos veículos de comunicação) a escolha do que interessa ou não. E mais, a definição de como o que importa será revelado. Tempos de crise ética, estética, conceitual e comercial, mas de grandes oportunidades para o fotojornalismo.

Produzido em parceria com Dominou Cursos.

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