O que é preciso para ser contratado por uma empresa e obter sucesso profissional? Se a sua resposta está relacionada aos dados comuns a qualquer currículo, como formação acadêmica, experiência e conhecimento na área de atuação, você precisa saber o que são as “soft skills” — em uma tradução livre, habilidades comportamentais.
Estas habilidades representam qualidades interpessoais, intangíveis a qualquer indivíduo: honestidade, boa comunicação, empatia e proatividade. Parecem atributos óbvios a qualquer funcionário, mas o fato é que pesquisas sugerem que estas habilidades são tão importantes quanto as qualificações tradicionais de trabalho.
Isso fica mais evidente em um cenário pautado pela automação de tarefas. Isto é: à medida que a tecnologia assume cada vez mais funções, é o lado humano que se sobressai. Não à toa, profissionais buscam qualificação por meio de cursos nas áreas de liderança, criatividade, inteligência emocional e pensamento crítico.
Historicamente, universidades tradicionais não conseguem para incorporar estas habilidades comportamentais em seus currículos — ou, quando o fazem, encontram dificuldades para avaliar os alunos e compreender se realmente foram desenvolvidas pela turma. O que abre caminho para programas de formação continuada.
É o caso da Udemy, marketplace global de ensino online. Com base na busca por cursos mais procurados por empresas e funcionários, a empresa conseguiu mapear as habilidades comportamentais mais relevantes em 2019. A lista, publicada no blog da plataforma, é esta:
Dados de uma pesquisa feita pela indústria de plásticos CPP Global sugere que um trabalhador típico dos Estados Unidos passa quase três horas por semana lidando com diferenças dentro da equipe. Ao mesmo tempo, um em cada três líderes sente dificuldade em criticar ou dar algum feedback direto aos seus subordinados.
Não seria necessário realizar qualquer pesquisa nesse sentido. De toda forma, os dados da Udemy’s 2018 Employee Experience Report indicam que metade dos participantes disseram que poderiam melhorar suas habilidades em gerenciamento do tempo. Na mesma pesquisa, 37% dos entrevistados alegaram que ferramentas de produtividade, como e-mail ou espaços para colaboração (como o Slack ou o Trello) podem ser ótimas “às vezes, mas nem sempre”.
Esgotamento mental, sobrecarga de trabalho, entre outros sintomas comuns ao ambiente de trabalho contemporâneo representam desafios que impactam não apenas a saúde dos funcionários. Estimativa feita pela Harvard Business Review indica que a exaustão física, mental e emocional provocada por estresse no trabalho custa algo entre US$ 125 bilhões e US$ 190 bilhões por ano para organizações dos EUA.
Ser claro, conciso e verdadeiro quando fala ou escreve; ao mesmo tempo, ser um ouvinte atento e eficaz. Isso é parte importante do trabalho moderno. Para justificar sua importância, a Udemy cita um levantamento feito pelo Google, que revela: ser um bom comunicador é uma das oito habilidades que define um bom gestor.
Mesmo quem não lida diretamente com quem consome produtos e serviços pode, de alguma forma, mudar a forma como uma organização é percebida durante algum diálogo. Isso porque é muito mais fácil compartilhar com sua rede de contatos uma experiência negativa em comparação com ações positivas.
Esta habilidade está relacionada à capacidade de uma pessoa estar ciente, controlar e expressar suas emoções. Ao mesmo tempo, compreende e influencia as emoções dos outros. Estudos compartilhados pela Udemy ligam inteligência emocional às habilidades de liderança, saúde, felicidade e empregabilidade.
Empregados organizados conseguem planejar seu dia de trabalho e adequar suas atividades a um planejamento. Por outro lado, costumam ser alvo de colegas que falam demais, ruídos no escritório, sobrecargas por trabalhos urgentes, mídias sociais e notificações no smartphone. O aumento da produtividade está relacionado ao foco no que importa e ao controle das fontes de distração.
Equipes da área de vendas e marketing já costuma usar esta habilidade para cativar seus públicos, chamar sua atenção e conduzi-los a uma ação. Mas o fato é que qualquer um pode aprender a contar boas histórias, melhorar a forma como suas ideias (e o seu próprio trabalho) são apresentados aos públicos interno e externo.
Além da automação e da inteligência artificial, outras variáveis contribuem para mudanças drásticas no ambiente de trabalho: incentivo ao home office, plataformas de economia colaborativa, novas demandas e postos de trabalho. Há uma palavra capaz de traduzir a habilidade de se adaptar ao que o futuro nos reserva: resiliência.
“A tecnologia vai ditar as normas e vai transformar ainda mais as indústrias no Brasil e fora do país. E, nesse novo contexto, cada vez mais as soft skills vão se destacar. Qualquer indústria nessa nova fase vai precisar de profissionais com essas habilidades. A carência é alta e as soft skills têm peso muito grande para o empregador”, afirmou Sérgio Agudo, diretor da Udemy Brasil, em entrevista ao InfoMoney.
Ainda que a lista possa ser enviesada, direcionando para cursos oferecidos pela plataforma, ela dialoga com a lista proposta pelo pesquisador Marcel Robles, da Eastern Kentucky University. Em 2016, a partir de entrevistas com executivos norte-americanos, a pesquisa elencou dez “soft skills” entendidas como fundamentais.
São elas: honestidade, comunicação, cortesia, responsabilidade, empatia, atitude positiva, profissionalismo, flexibilidade, trabalho em equipe e lealdade no trabalho.
A diferença entre “hard skills” e “soft skills” é simples. A primeira está relacionada às capacidades e habilidades técnicas necessárias para cumprir tarefas. A segunda diz respeito às qualidades interpessoais. Historicamente, organizações se preocupavam muito mais com os atributos específicos de uma profissão ao formar suas equipes de trabalho. Isso acabou: a exigência por equipes enxutas e produtivas gestores estão cada vez mais preocupados com os aspectos comportamentais de seus funcionários.