O assessor de imprensa tem duas grandes ferramentas para pautar os jornalistas. Uma é o release: curto e direto, segue discretamente para a correspondência de cada repórter.
A outra é a coletiva de imprensa: um evento amplo, dramático, do qual participam o maior número possível de pessoas e veículos. Não é à toa que coletivas de imprensa aparecem em tantos filmes e novelas. Mas afinal, para que serve uma coletiva? Vamos entender a verdade.
O chamado “ciclo de notícias de 24 horas” não é exclusividade dos Estados Unidos. No Brasil também temos canais exclusivos de notícias, além de rádios que precisam dar novidades o tempo todo. Se o tema for futebol, então, nem se fala: mesmo com jogos apenas quarta e domingo, o insaciável apetite por palpites, declarações e especulações dura a semana inteira. Coletivas ajudam a alimentar os telejornais, programas vespertinos e mesas-redondas sem fim. Como já vão fazê-lo, melhor que seja exibindo a marca do seu cliente, ou colocando sua pauta numa luz favorável.
O avião caiu, o jogador de basquete falou uma besteira, o consultor deixou vazar um relatório incendiário. Os telefones não param de tocar na assessoria de imprensa, e não é possível saber o que se passa na cabeça de cada editor. O melhor é convocar uma coletiva, para atender a todos os jornais de uma só vez. Além disso, como o único pronunciamento será amplamente gravado, é muito improvável que um repórter desatento ou um editor mal-intencionado publiquem algo distante do que foi realmente dito. A própria quantidade de veículos de imprensa é um “seguro” contra distorções.
Você se lembra da operação que matou Bin Laden? Um dos helicópteros americanos caiu perto da casa do terrorista (os soldados não se machucaram). Mais tarde, um militar dos EUA afirmou à revista New Yorker que isso foi muito bom. A presença inegável dos destroços da aeronave calava a boca dos especuladores e teóricos de conspiração de sempre. Você pode usar o mesmo fator a favor do seu cliente. Vai anunciar a despoluição de um rio? Marque a coletiva de imprensa à beira do rio. Uma nova invenção? Combine uma demonstração pública. Use a velha máxima aprendida pelas crianças americanas na escola: “não conte, mostre”. Se fosse para contar, bastava o release.
O subtexto da coletiva de imprensa pode ser mais importante que o texto. Se dois adversários políticos comparecem a uma coletiva juntos, o simbolismo da união é mais importante (e convincente) do que o que eles realmente vão dizer. Se após uma derrota esmagadora o técnico de uma seleção de futebol recebe, durante a coletiva, o abraço do principal astro, o gesto vai abafar o tom feroz das críticas. A coletiva também pode ser o palco público e notório para alguém conseguir o que quer – por exemplo, na frente das câmeras, fazer um desafio ou um convite que, de outra forma, seria recusado. Sabe quem entende disso? O Papa Francisco.
Em setembro de 2013, Chiquinho Scarpa anunciou que enterraria seu Bentley, um carro de luxo. Convocou uma coletiva em sua casa. E lá, o que fez? Anunciou que na verdade era tudo um golpe para promover uma campanha de doação de órgãos. Foi uma das coletivas mais bem-sucedidas na história recente. Anunciar uma coletiva com certo propósito e depois fazer uma surpresa é uma estratégia mais arriscada, já que coletivas servem exatamente para aumentar o controle sobre o que sai na imprensa. Mas foi através desse risco e do imprevisto que se alcançou tamanha repercussão.
Agora que você já entendeu as principais funções de uma coletiva, com qual intuito você pretende fazer uma? Comente!