Pergunta crucial: como começar minha notícia?

Por DINO 14 de março de 2017
Pergunta crucial: como começar minha notícia?

O lide (em inglês, “lead”) é um dos recursos jornalísticos mais utilizados quando se trata de iniciar uma notícia e apresentar objetivamente os fatos mais relevantes

Escrever de modo objetivo e informativo. Deixar o leitor ciente – logo no início – a respeito do fato que está sendo reportado. “Ir direto ao ponto”, sem abrir mão da relevância. Estes são alguns dos aspectos que fizeram com que uma técnica textual fosse criada para auxiliar jornalistas em seu ofício. Batizado por norte-americanos de “lead”, o recurso passou da comunicação militar – na qual exigia-se dos jornalista precisão e agilidade para atualizar as tropas a respeito do status dos conflitos – para a realidade “hard news” das redações em meados do século passado. Basicamente, ele surge como complemento da “Teoria da Pirâmide Invertida” e ajuda os redatores a conseguirem – logo no primeiro parágrafo – sintetizar o que há de essencial na notícia – e que irá impactar o leitor já nas primeiras frases.

Para tal, é preciso responder algumas questões fundamentais logo na abertura da notícia: Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Por quê? Obviamente, a ordem pode ser alterada de acordo com o que se deseja enfatizar, porém, a estrutura técnica pede para que tais questões sejam respondidas de modo objetivo. Esta é uma maneira prática de organizar o que é mais importante e deixar em evidência para o leitor. Além de facilitar a leitura, também agiliza o processo de escrita, conseguindo informar sem perder muito tempo e deixando a manchete “esfriar”.

 
dino divulgador de notícias

Sem mais introduções, vamos listar alguns tipos de lide que podem ajudar na composição de sua notícia, levando em conta características específicas que podem se encaixar aos mais diversos assuntos.

Lide simples/informativo:

Trata apenas de um fato relevante. Responde às questões básicas, mas não desvia o foco para outros aspectos da notícia. Pode contar com informações adicionais, porém apenas um acontecimento permanecerá em evidência. Geralmente, são utilizados para noticiar a morte de alguém, um evento de grande porte ou, por exemplo, comunicados de interesse nacional e não necessariamente exige que todas as perguntas principais sejam respondidas (Quem? Como? Onde?…).

Lide Composto:

Relaciona mais de um fato no mesmo parágrafo e destaca a importância de ambos – enfatizando no modo como se relacionam. O lide composto permite maior número de informações e também de aprofundamento no tema abordado. Ainda assim, precisa ser conciso. Outra característica importante é que, neste caso, todas as perguntas principais devem ser respondidas, afinal, há mais de um elemento relevante no fato noticiado.

Lide “Apelativo”:

Trata-se de um início de texto que tente prender o leitor na própria narrativa, buscando envolvê-lo no fato. Traz, geralmente, alguma pergunta ou afirmação e invoque empatia ou interesse para além do relato de um acontecimento. Por ser mais intimista, propõe – sem perder o caráter jornalístico e objetivo – um diálogo menos formal com o público, podendo até mudar a narrativa para a 2ª pessoa do singular.

Lide “Humano”:

Para além do relato, este tipo de lide exige criatividade o bastante para humanizar o texto, ou seja, para deixar evidente que o redator está interpretando algum fato e invocando elementos como empatia, descrição de aspectos intangíveis (sentimentos, perspectivas, memórias) e depoimentos de fontes que também possam captar a atenção do leitor. Entretanto, vale ressaltar: este tipo de lide depende muito da linha editorial do veículo de comunicação e do grau de flexibilidade textual adotado. Há quem também o chame de “nariz de cera”.

Lide com Citação Direta:

Neste caso, o texto é iniciado com aspas da fonte principal ligada ao assunto em questão. Iniciar a notícia com esse recurso agrega tom de propriedade e também de manchete. Muito utilizado quando se trata de figuras públicas conhecidas cujas falas sempre têm grande repercussão no meio social. Há, contudo, de se tomar cuidado para que esta narrativa não elimine por completo o interesse pelo restante do conteúdo ou parece que se trata de trabalhar a imagem de alguém específico.

Lide Cronológico/Documental:

Há muitos fatos que precisam ter seu histórico revisitado para que o leitor compreenda o contexto e o desfecho até o momento presente. Consequentemente, há notícias que exigem pesquisa histórica e um texto estruturado cronologicamente. Para resumir sem perder detalhes fundamentais, o lide documental destaca os principais pontos que levaram ao fato desde os primeiros ocorridos.

Lide Descritivo:

Quando o local tem importância fundamental para o relato da notícia, então o lide abre espaço para que seu redator descreva todos os detalhes no intuito de ajudar o leitor a visualizar o espaço. Cenas de crimes, acidentes e locais recém-descobertos e ambientes urbanos, por exemplo, cabem neste tipo de introdução. Só é preciso tomar cuidado para que o excesso de descrição não deixe o leitor confuso ou o conteúdo prolixo.

Há diferentes variações de lide e todas elas, como dito anteriormente, dependem da temática abordada e intenção do jornalista. O que deve ser enfatizado é o “noticioso”, mas como ele será trabalhado está muito ligado ao estilo de redação adotado. Seja como for, há espaço para todos os gostos.

Então, basta fazer uma pausa antes de escrever a primeira frase e não mais perguntar “como começar minha notícia”, mas sim “com qual lide vou começar minha notícia”. Em seguida, é só colocar a criatividade e técnica em ação.

Central de Ajuda Jornalismo